quarta-feira, 26 de outubro de 2011

OS SEXAGENÁRIOS


As notícias nos jornais são bem evidentes do quão pouca importância é hoje dada às pessoas com idades a partir dos sessenta anos.
Vejamos certos extractos dos diários do nosso Portugal:
Um sexagenário foi atropelado…
Foi assaltado um casal de sexagenários…
É assim!...
A partir dos sessenta anos perdemos a identidade, deixamos de ser úteis, somos tratados como uma antiguidade que se guarda mais por respeito aos nossos antepassados que um bem precioso que partilhou connosco a sua vida, nos dedicou o seu tempo e mocidade, se aniquilou centenas de vezes em nosso favor, que nos escutou com atenção quando precisámos de desabafar, que deixou passar o seu tempo de saúde e força usando-as em nosso proveito…
E agora?!
É apenas mais um sexagenário que anda neste mundo só a atrapalhar pois já não trabalha, não produz, não faz nada de útil pois está completamente ultrapassado.
Para quê escutá-lo e beber a sua experiência de vida, se a televisão tudo ensina e a internet está ao nosso dispor?!
Esquecemo-nos, no entanto, do amor e carinho que “o velho” transmite nos seus ensinamentos, a emoção que põe nas suas histórias apaixonadas e o equilíbrio conseguido pela experiência de uma vida vivida, pela luta constante na resolução de problemas e que só ele consegue imprimir no seu relato de um facto vivido.
Com a evolução,” os velhos “ são considerados coisas sem préstimo e que ainda não são eliminados porque a lei não o permite. São, no entanto, postos em contentores (os lares de idosos), não para reciclagem, mas para dar oportunidade aos jovens de trabalhar, viver, gozar a vida.
Parece impossível como evoluímos tanto no campo da ciência e tanto regredimos no dos sentimentos humanos!
A maior parte das pessoas, a partir do momento em que são avós são usadas como amas dos netos sendo, no entanto, várias vezes recriminadas pelas suas atitudes de benevolência ou até mal compreendidas quando pretendem ajudar a educar estabelecendo regras e condutas de ética social.
Se, pelo contrário, os avós são suficientemente sabedores para ensinarem inúmeras coisas, são ainda vistos como algo a evitar, pois poderá acontecer que as crianças descubram que os mais velhos têm valores e sabedoria que poderá ultrapassar em vários aspectos os dos seus progenitores.
Na realidade, voltamos outra vez à era em que se levavam os pais ao monte e aí os abandonavam à sua sorte. Hoje, para ficarmos com a consciência descansada, arranjamos-lhe bons lares (quase hotéis de 5 estrelas) mas despidos de amor familiar e do carinho dos mais novos ficando ambas as gerações prejudicadas pela falta de interacção entre as crianças e os “velhos” que tão frutuosa se mostrou durante séculos e onde ainda é praticada entre os povos de elevados sentimentos humanos.
Ter “ velhos” em casa é ter uma enciclopédia de vida, de amor e sentimentos que nada nem ninguém poderá substituir.

26/10/11

domingo, 23 de outubro de 2011

VELHICE


Estou velha?!
Velha?! Eu?!
Como posso estar velha
Se gosto tanto de viver?!
Cansada!...
Talvez!...
Mas velha?!
Não, isso não!
Podeis crer.

Gosto de dançar,
Nadar e escrever…
Às vezes pinto
Um quadro harmonioso
Que guardo com prazer.
Sei um sem número de coisas
E ainda espero muitas outras aprender.

Então, por que me chamam de velha,
Se dentro do meu coração
Ainda há tanto querer?!

Velho,
 É aquele que se cansou de viver,
Que passa pela vida sem nada fazer,
É o pessimista que na noite
Só vê o breu,
Sem nunca vislumbrar
O veludo do céu.

17/10/2011

LAR… DOCE LAR!...


Lar!...
Casa!...
Família!...
Amor, partilha, doação,
Viver com afecto
Carinho e compreensão.

Lar!... Depósito!... Armazém!...
Tentar viver os últimos dias
Sem amor, sem carinho,
Sem afeição de ninguém.
Partilhar um espaço
Com todos os “velhos”
Que os filhos guardaram,
Abandonando-os com certo desdém.

Já não prestam,
São chatos, aborrecidos,
Contam a mesma história
Vezes sem conta ,
Num vaivém.

Há anos atrás,
Eram os filhos pequenos…
E perguntavam, perguntavam,
Vezes sem conta,
A mesma coisa também.
O pai, paciente,
Explicava, contava, descrevia,
A mesma coisa , no mesmo vaivém.

O tempo passou,
O filho cresceu…
A história repete-se
O pai, envelheceu,
Mas o filho já não tem
Tempo nem carinho,
Para ouvir a história
Que o “velho” conta
Neste vaivém.

18/10/2011   Maria Sá