quinta-feira, 4 de junho de 2009

Momentos de Sim, Momentos de Não

Outono da vida!...
Folhas caindo!... Beleza etérea!...
As árvores brilham com os raios de sol saltitando nas húmidas folhas purpúreas, douradas, lindas, resplandecentes!...
Quem diria que são “velhas” e, aos poucos, se misturam na terra, transformando-se em adubo fertilizante dessa terra que as alimentou na Primavera e as fez brotar em rebentos tenros cercados de flores, extasiando os nossos sentidos com a sua frescura, o seu odor, a sua explosão para a vida?!...
É esse Outono que eu vivo e vou espalhando, quais folhas ao vento, o que a experiência de uma vida, muito rica de sensações de toda a espécie, para que, quem as apanhar e, tal como muitos fazem, as meterem num livro, secarem e, quantas vezes lhes darem nova vida, transformando-as em quadros maravilhosos ou outros objectos de adorno que guardam com saudade, mas que representam cada momento importante dessa vida que vivemos.
Uma folha! Uma simples folha!....
Quantas vezes ela serviu de abrigo a inúmeros seres vivos?...
Como nós, nos nossos momentos de alegria, dor, angústia, satisfação, enfim, numa amálgama de acontecimentos e que, em ocasiões fulcrais, também fomos um abrigo para um amigo, um familiar, um filho, um desconhecido, alguém que precisava do nosso consolo e protecção!...
Caem as folhas outonais...
Desprendem-se das árvores,
Esvoaçam,
Rolam,
Formam um tapete
Belo, dourado,
Purpúreo, esverdeado...

Sejam os nossos momentos da vida tal como elas e deixemos desprender-se de nós o que a vida nos ensinou, as nossas experiências (boas ou más) legando-as aos que ficam e necessitam delas tal como a terra das folhas apodrecidas para que as transformem em alimento para aqueles que brotarão na Primavera das suas vidas, tão lindos, tão tenros, mas tão desprovidos de protecção e do saber que só os anos nos dão.

Como é belo o Outono!..
Cor do ouro! Da luz!...
Da autenticidade

É maravilhoso o Outono da vida!
Apesar de já não brotarem infinidades de flores magníficas (as ilusões da juventude), de nos aquecermos nos primeiros raios quentes (a protecção dos nossos pais), o desabrochar da Natureza em beleza esfusiante, os trinados dos pássaros, o canto inconfundível do cuco, o incansável matraquear das cegonhas em seus altos ninhos, a azáfama das avezitas, das abelhas carregadas de néctar...
Apesar de já não termos o viço da juventude, de não darmos as gargalhadas sonoras e inusitadas, de não haver os namoricos, os bailes, as correrias, as descobertas, a beleza do Outono lá continua, dando-nos alento para continuar esta luta infindável pela vida!...

Mas ainda é belo! É o Outono da vida, com a confiança que se adquire, com os seus ensinamentos, com o brilho, não de vitalidade, mas do inebriante sabor de uma vida vivida, da partilha com os outros, do saber ouvir, do saber esperar, do saber sentir e, pacientemente, ver nos nossos netos o rejuvenescimento do quanto já vivemos e do que podemos dar-lhes para os ajudarmos a lidar com os problemas do quotidiano.
A beleza começa a esfumar-se, a agilidade a diminuir, a memória a pregar-nos partidas, mas, em nós, permanece o saber que recolhemos, numa vida plena de acontecimentos bons e maus que forjaram esta coragem que ainda sinto para lutar e, abnegadamente, ir superando os problemas infindáveis deste Outono tão repleto de contratempos, mas tão cheio de alegrias jamais experimentadas e de uma força sobrenatural para viver com qualidade no meio das inúmeras dificuldades surgidas.
São os ventos fortes que abalam, as chuvas fustigantes das lágrimas copiosas do sofrimento, as neblinas que atormentam a nossa mente para discernir o caminho a seguir, as trovoadas assustadoras das provações a que estamos expostos, o frio que gela os nossos corações angustiados, o calor morno do Sol dos belos momentos que ainda conseguimos desfrutar, o cheiro inconfundível das castanhas assadas, do mosto, do vinho novo e de tudo o que ainda podemos sentir de agradável nesta idade em que muitos já desesperam e perdem a vontade de viver.

É lindo o Outono!
Perfumados frutos maduros,
Vinhas repletas de cachos pendentes,
Cheiro a compota,
A uma vida plena de coisas boas!...
De sensações maravilhosas,
Do carinho terno dos netos,
Da autoconfiança adquirida,
Dos amigos que ficam,
Da família que cresce...

A neblina tolda o ar,
Surgem pequenas contrariedades,
Adensam-se as nuvens,
Perda de amigos,
De familiares
Que partem para sempre...
Doenças incuráveis,
Dor!... Solidão!...

Há tempo para as pequenas coisas que sempre desejamos fazer, há tempo para meditar,
há tempo para relaxar, há tempo para viver!...
É uma vida diferente, é certo!... Mas bela e insubstituível, tal como as estações do ano.

Que é da frescura da Primavera?
Do viço fresco das plantas
Do brotar das flores
Em explosões de cor e perfume?
Onde está o alegre chilrear dos pássaros
O canto do cuco
Os ninhos repletos de vida a crescer?


Onde estão as ilusões da juventude?
As gargalhadas frescas,
Os sonhos cor-de-rosa,
Os namoricos?
As festas inocentes,
Os bailaricos,
Os vestidos rodados,
Os soquetes,
As cinturas bem marcadas?
Os sapatinhos rasos,
As golas bordadas,
Os cabelos em tranças,
As caras lavadas
Cheirando a sabonete
E água de rosas?
Os laçarotes,
A agilidade saltitante,
O riso fácil
A utopia da vida feliz?
Ficaram lá longe!...
Há anos atrás...
Como doces lembranças...
Ternas recordações...
Salpicadas aqui e ali
Pela chuva primaveril
Que depressa se esvai!...
No Sol que brilha
Do calor do Verão
Que se aproxima.

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